Por que na Psicanálise Não Gostamos do Termo "Paciente" ou "Cliente"
- Daniel Borelli
- 11 de mar.
- 3 min de leitura

Quem nunca ouviu alguém se referir a quem faz psicanálise como "paciente" ou "cliente"? São palavras que circulam por aí, mas, dentro da psicanálise, elas soam um pouco estranhas. Isso porque, para a psicanálise, o encontro entre duas pessoas na clínica — o analista e quem chega ali para falar — é muito mais do que uma relação de médico e paciente ou de serviço e consumidor. Ali, não há um "doente" sendo tratado, nem um "cliente" contratando um serviço. Há alguém que, como qualquer um de nós, carrega angústias, dores, medos, desejos e frustrações, e que busca um espaço para entender o que vive.
Ninguém está isento de conflitos internos, e, por isso, quem procura a psicanálise não é uma pessoa "doente", mas sim alguém que está em busca de se escutar de uma forma mais profunda (Freud, 1917). Quando chamamos de "paciente", parece que estamos falando de alguém que precisa ser consertado, como um carro na oficina ou um corpo no hospital. Mas a psicanálise não quer "consertar" ninguém — quer abrir espaço para que a pessoa possa falar livremente, sem a obrigação de "melhorar" ou "se curar", mas apenas de se escutar e se entender.
Também o termo "cliente" não cai bem. Afinal, o que acontece na clínica psicanalítica não é uma "prestação de serviço", como quem compra um café ou faz uma assinatura. Não há um produto pronto sendo entregue. O que se dá ali é um encontro único, onde cada sessão é construída a partir do que a pessoa traz, com suas dores e suas palavras. O espaço da análise é, antes de tudo, um lugar de fala, de escuta e de criação de sentido — e não de consumo (Lacan, 1964). Por isso, falar em "cliente" tira toda a profundidade do processo, como se o analista estivesse ali apenas para entregar um resultado pronto.

O analista oferece é um "ambiente" onde o outro pode se sentir seguro para ser quem é, sem máscaras, sem a necessidade de agradar ou corresponder a expectativas (Winnicott, 1965). Nesse ambiente, não cabem rótulos. Não há "paciente", não há "cliente". Há um sujeito, uma pessoa inteira, com suas contradições, suas feridas e suas potências. Alguém que sente, que se angustia, que se frustra, que deseja. E isso é profundamente humano.
A psicanálise acolhe essas dores sem transformar a pessoa em um número, em um diagnóstico, em um rótulo. Por isso, os psicanalistas preferem falar simplesmente em "analisando" — aquele que se coloca na posição de falar, de se analisar, de escutar a si mesmo com a ajuda do analista. Alguém que não está "doente", mas sim vivendo as dores e os desafios de existir.
No fim das contas, o que a psicanálise oferece é um espaço onde as palavras podem circular sem medo, sem pressa, sem o peso de serem julgadas. E para que isso aconteça, é preciso que quem chega ali não seja visto como um "caso", mas como uma pessoa singular, única, com sua própria história e maneira de sentir o mundo.
Referências
Freud, S. (1917). Luto e Melancolia. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud.
Lacan, J. (1964). O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
Winnicott, D. W. (1965). O Ambiente e os Processos de Maturação: Estudos sobre a Teoria do Desenvolvimento Emocional. Porto Alegre: Artmed.



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